Enquanto
no Brasil, escolas que "obrigam" alunos a ajudar na limpeza das salas
são denunciadas por pais e levantam debate sobre abuso, no Japão, atividades
como varrer e passar pano no chão, lavar o banheiro e servir a merenda fazem
parte da rotina escolar dos estudantes do ensino fundamental ao médio.
![]() |
Alunos ajudam em limpeza de escola no Japão (Foto: Marcelo Hide/BBC) |
"Na
escola, o aluno não estuda apenas as matérias, mas aprende também a cuidar do
que é público e a ser um cidadão mais consciente", explica o professor
Toshinori Saito. "Ninguém reclama porque sempre foi assim."
Nas escolas japonesas, também não existem refeitórios.
Os estudantes comem na própria sala de aula e são eles mesmos que organizam
tudo e servem os colegas.
![]() |
Em escola japonesa, os próprios alunos ajudam a servir merenda aos colegas. (Foto: Arquivo pessoal) |
Depois da merenda, é hora de limpar a escola. Os alunos
são divididos em grupos, e cada um é responsável por lavar o que foi usado na
refeição e pela limpeza da sala de aula, dos corredores, das escadas e dos
banheiros num sistema de rodízio coordenado pelos professores.
![]() |
Reunidos em grupos, alunos se revezam na tarefa de limpar a escola no Japão. (Foto: Marcelo Hide/BBC) |
"Também ajudei a cuidar da escola, assim como meus pais e avós, e
nos sentimos felizes ao receber a tarefa, porque estamos ganhando uma
responsabilidade", diz Saito.
Michie
Afuso, presidente da ABC Japan, organização sem fins lucrativos que ajuda na
integração de estrangeiros e japoneses, diz ainda que a obrigação faz com que
as crianças entendam a importância de se limpar o que sujou.
Um reflexo disso pôde ser visto durante a Copa do Mundo
no Brasil, quando a torcida japonesa chamou atenção por limpar as arquibancadas
durante os jogos e também nas ruas das cidades japonesas, que são conhecidas
mundialmente por sua limpeza quase sempre impecável.
"Isso mostra o nível de organização
do povo japonês, que aprende desde pequeno a cuidar de um patrimônio público
que será útil para as próximas gerações", opina.
![]() |
Alunos limpam até o banheiro da escola. (Foto: Marcelo Hide/BBC) |
Estrangeiros
Para que os estrangeiros e seus filhos entendam como funcionam as tradições na
escola japonesa, muitas prefeituras contratam auxiliares bilíngues. A
brasileira Emilia Mie Tamada, de 57 anos, trabalha na província de Nara há 15 e
atua como voluntária há mais de 20.
"Neste
período, não me lembro de nenhum pai que tenha questionado a participação do
filho na limpeza da escola", conta ela.
Michie Afuso diz que, aos olhos de quem não é do país, o
sistema educacional japonês pode parecer rígido, "mas educação é um
assunto levado muito à sério pelos japoneses", defende.
Recentemente no Brasil, um vídeo no qual uma estudante
agride a diretora da escola por ela ter lhe confiscado o telefone celular se
tornou viral na internet e abriu uma série de discussões sobre violência na
escola.
![]() |
Educadores japoneses defendem que ação ajuda na construção de noções de responsabilidade. (Foto: Marcelo Hide/BBC) |
Outros
casos de agressão contra professores foram destaques de jornais pelo Brasil nos
últimos meses, como da diretora que foi alvo de socos e golpes de caneta em
Sergipe e da professora do Rio Grande do Sul que foi espancada por uma aluna e
seus familiares durante uma festa junina.
No Japão, este tipo de abuso dentro da escola é raro.
"Desde os tempos antigos, escola e professores são respeitados. Os alunos
aprendem a cultivar o sentimento de amor e agradecimento à escola", diz
Emilia.
Violência
No ano passado, durante as eleições, a BBC Brasil publicou uma série de reportagens sobre a violência de alunos contra professores no Brasil. As matérias revelaram casos de professores que chegaram a tentar suicídio após agressões consecutivas e apontaram algumas das soluções encontradas por colégios públicos para conter a violência – da militarização à disseminação de uma cultura de paz entre escolas e comunidade.
Segundo a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), que ouviu mais de 100 mil professores e
diretores de escola em 34 países, o Brasil ocupa o topo de um ranking de
violência em escolas – 12,5% dos professores ouvidos disseram ser vítimas de
agressões verbais ou intimidação pelo menos uma vez por semana.
"Assim como o Brasil tem um programa de intercâmbio
com a polícia japonesa, poderíamos ter um na área educacional", propõe
Michie, da ABC Japan, ao se referir ao sistema de policiamento comunitário do
Japão que foi implantado em algumas cidades do Brasil.
A brasileira lembra que a celebração dos 120 anos de
relações diplomáticas entre Brasil eJapão seria
uma ótima oportunidade para incrementar o intercâmbio na área social e não
apenas na comercial.
"Dessa forma, os professores poderiam levar algumas
ideias do sistema de ensino japonês para melhorar as escolas no Brasil",
sugere Michie.
Fonte: http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/11/no-japao-alunos-limpam-ate-banheiro-da-escola-para-aprender-a-valorizar-patrimonio.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário